Pedras Preciosas e Semipreciosas

A distinção entre pedras preciosas e semipreciosas sempre careceu de fundamento científico. Hoje, todas as pedras, sejam minerais ou rochas, valorizadas por sua estética, durabilidade e raridade, devem ser reconhecidas como gemas.

Para compreender essa mudança, é importante contextualizar historicamente o conceito de gemas. Tradicionalmente, apenas diamante, esmeralda, rubi e safira eram considerados “pedras preciosas”, devido ao seu uso em contextos religiosos e cerimoniais, enquanto outras gemas eram rotuladas como “semipreciosas”.

No entanto, essa distinção é controversa e limitada, pois subestima o valor de gemas como opala, água-marinha, crisoberilo, ametista e alexandrita, todas elas representantes da riqueza mineral brasileira. Portanto, é mais apropriado evitar a distinção entre pedras preciosas e semipreciosas, optando pelo termo genérico “gema”.

As quatro gemas devocionais em sua forma natural e lapidada: (A) Diamante, com sua estrutura dodecaédrica bruta e lapidação em formato brilhante; (B) Esmeralda, com sua forma de prisma hexagonal na forma natural e lapidada como esmeralda; (C) Rubi, na forma natural hexagonal e lapidado em formato oval; (D) Safira, com sua estrutura natural hexagonal e lapidada em formato oval. Fonte: https://www.gia.edu

As principais Gemas Brasileiras

As gemas brasileiras oferecem uma riqueza diversificada, destacando-se especialmente as turmalinas e os diferentes tipos de berilos.

Berilos

O berilo é um mineral composto por silicato de berílio e alumínio, apresentando uma estrutura prismática ou colunar com base hexagonal. Possui uma dureza que varia de 7,5 a 8 na escala de Mohs e um peso específico entre 2,63 e 2,80. Sua superfície reflete um brilho vítreo e pode ser transparente ou translúcido, embora sua clivagem seja fraca.

Naturalmente, o berilo é incolor, mas pode adquirir tonalidades diversas devido a impurezas presentes. Por exemplo, a presença de ferro férrico ou cromo confere ao berilo uma coloração verde, sendo então denominado como esmeralda. Já a água-marinha, caracterizada por tons azuis, resulta da presença de cromo e vanádio. A morganita, por sua vez, apresenta uma tonalidade rosa devido à influência do manganês e ferro. Quando exibe um tom amarelo brilhante ou amarelo-esverdeado, é conhecido como heliodoro, atribuído à presença de manganês, ferro e titânio. Em sua forma incolor, o berilo é chamado de goshenita.

Raramente, o berilo pode ser encontrado em uma tonalidade vermelha, conhecida como esmeralda vermelha ou bixbita.

Esmeralda em estado bruto, ainda inserida na rocha. (Fonte: The Natural Emerald Company)
Diferentes tipos de berilo lapidados, ordenados da esquerda para a direita: bixbita, morganita, heliodoro, água-marinha e esmeralda. (Fonte: https://www.gia.edu)

Turmalinas

As turmalinas pertencem ao grupo dos silicatos de boro e alumínio, apresentando uma composição variável devido às substituições que podem ocorrer em sua estrutura. Elementos como Fe, Mg, Na, Ca e Li são comumente envolvidos nessas substituições. Essas gemas possuem uma forma prismática, podendo variar de cristais longos e finos a colunas mais grossas, com uma seção basal triangular. Sua dureza varia entre 7 e 7,5 na escala de Mohs, enquanto o peso específico situa-se entre 2,9 e 3,2.

As turmalinas podem ser transparentes ou opacas, exibindo um brilho vítreo e estrias verticais distintas que auxiliam em sua identificação. Elas são categorizadas de acordo com sua cor: dravita (castanha), schorlita (preta), elbaíta (verde), rubelita (rosa), indicolita (azul escuro), acroíta (incolor), entre outras. Algumas variedades são bicolores, como a turmalina melancia, caracterizada por apresentar uma tonalidade rosa no interior do cristal e verde na parte externa. Destaca-se também a turmalina Paraíba, altamente valorizada por seu azul-claro intenso, conhecido no mercado como azul neon, azul fluorescente ou azul elétrico.

Diversas variedades de turmalina: rubelita (rosa), elbaíta (verde) e turmalina Paraíba (azul). (Fonte: https://www.gia.edu)

Gemas sintéticas

As gemas sintéticas são aquelas criadas em laboratório e que replicam gemas encontradas na natureza. Esses materiais são desenvolvidos para possuir a mesma composição química, estrutura cristalina, propriedades físicas e ópticas de suas contrapartes naturais.

O Instituto Gemológico da América (GIA), uma das principais instituições de pesquisa e estudo de gemas, define gemas sintéticas como aquelas produzidas em laboratório que compartilham todas as características químicas, ópticas e físicas de seus equivalentes naturais. No entanto, em alguns casos, como na turquesa sintética e opala sintética, podem ser adicionados compostos extras para melhorar suas propriedades.

Gemas artificiais

As gemas artificiais são aquelas fabricadas em laboratório e que não possuem equivalentes na natureza, como é o caso da zircônia cúbica, frequentemente utilizada como uma alternativa ao diamante.

Shah (2012) distingue as gemas artificiais das sintéticas, explicando que as artificiais são produzidas exclusivamente pelo homem e não têm correspondência direta com gemas naturais, enquanto as gemas sintéticas são materiais cristalinos ou recristalizados, cuja fabricação é total ou parcialmente conduzida pelo homem, mas mantêm a mesma composição física, química e propriedades ópticas das gemas naturais.

O Instituto Gemológico da América (GIA) identifica algumas das principais gemas artificiais, como a zircônia cúbica (óxido de zircônio), a granada de ítrio-alumínio (YAG), a granada de gálio gadolínio (GGG), a fabulita (titanato de estrôncio) e a moissanita (carboneto de silício). A maioria dessas gemas sintéticas são usadas para simular as características do diamante.

Gemas artificiais: (A) Zircônia cúbica; (B) GGG (granada de gálio gadolínio); (C) YAG (granada de ítrio-alumínio); (D) YAG antes da lapidação. (Fonte: https://www.gia.edu)

Imitação de gemas

As imitações são reproduções das características visuais das gemas naturais, simulando sua cor e aparência. Elas se distinguem das gemas sintéticas por possuírem propriedades físicas e composição química completamente diferentes das gemas naturais e sintéticas. As imitações são frequentemente feitas de materiais como vidro, pasta, strass, faiança, porcelana e plásticos, sendo moldadas ao invés de lapidadas.

Alternativas: (A) Vidro simulando malaquita; (B) Vidro representando quartzo rutilado; (C) Cerâmica imitando turquesa. (Fonte: https://www.gia.edu)

O site da International Gem Society (IGS), uma associação norte-americana, explica que as imitações são peças criadas com o objetivo de se assemelhar a uma gema, mas ressalta que uma análise gemológica é capaz de identificar a verdadeira natureza do material.

Referências

GEMOLOGICAL INSTITUTE OF AMERICA – GIA. Emerald. Disponível em: https://www.gia.edu/emerald.

JUCHEM, P. L; BRUM, T. M. Gemologia para designers: curso básico de gemologia, 2010. 54 f. Notas de Aula. Impresso.

SHAH, R.The analysis of natural gemstones and their synthetic counterparts using analytical spectroscopy methods. Tese (Doutorado) – Edinburgh Napier University. Edinburgh. 168 f. 2012. Disponível em: https://www.cigem.ca/research/ShahThesis.pdf.

THE NATURAL EMERALD COMPANY. The emeralds. Disponível em: https://about.emeralds.com.

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